sábado, 4 de março de 2017

[Fundo de Catálogo] Bob Dylan - John Wesley Harding (1967)



E, de fininho, Dylan regressa do meio da azáfama psicadélica e toca como se nada fosse. Deixou de influenciar e deixar influenciar pelos Beatles e, tal como os Beach Boys, recua. Regressa a um som acústico. A voz de uma geração deixa-o de ser porque, entretanto, a voz é vítima de uma acidente de mota e a geração vira hippie.  

Depois da recuperação do acidente, de um período em que gravou The Complete Basement Tapes e de muito estudar a Bíblia, Dylan regressa com vontade de manter discreto e chega mesmo a rejeitar a edição de singles. Ainda para mais, John Wesley Harding chega depois do Natal, mesmo a fechar o ano. Se até aí é a canção de intervenção que o guia, aqui, no ao 8º disco, é a Bíblia que lhe orienta a inspiração. 

Diz-nos o livro 61 Highways Revisited que são 60 as referências bíblicas aqui embutidas. De Provérbios ("The Wicked Messenger") a Apocalipse ("All Along the Watchtower"), passando por Isaías ("All Along the Watchtower" novamente) e Samuel ("The Wicked Messenger novamente), por exemplo. Estas são referências directas, mas há mais. Há "I Dreamed I Saw St. Augustine" e a depravação e o arrependimento, e há "Drifter's Escape" que arranca com um "Oh, help me in my weakness" e termina com o milagre: "Just then a bolt of lightning Struck the courthouse out of shape / And while ev’rybody knelt to pray / The drifter did escape". Ou ainda "I Pity the poor immigrant" que parece ser uma canção sobre descrentes: "That man whom with his fingers cheats / And who lies with every breath / And likewise, fears his death".

Apenas um paralelismo com as gentes do psicadelismo: num ano em que várias capas que pareciam uma derivação de Where's Waldo, também Dylan quis passar despercebido.

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