sábado, 18 de fevereiro de 2017

[Fundo de Catálogo] Phil Ochs - Pleasures of the Harbor (1967)


E mais um disco incrivelmente influenciado por Sgt Peppers..., mas Pleasures of the Harbor não se fica por aqui e deixa entrar os temas fracturantes da altura, o Summer of Love, a Guerra do Vietname, a morte de JFK, a luta pelos direitos civis e a revolução cultural chinesa. Phil Ochs chega a 1967 já com uma carreira folk como cantor de protesto, depois de ter estudado jornalismo, altura em que ganhou o interesse por política. Mesmo aqui, altura em que deixa a folk para trás na procura de coisas maiores, o protesto continua a ser preponderante.

Em 1962, Ochs muda-se para Nova Iorque e ambiciona ser o melhor cantor folk que existe. Depois conhece Dylan e rectifica: "vou ser o segundo melhor cantor folk que existe". Testemunhos referem que, embora existam trocas de elogios documentadas, Dylan conseguiu ser um verdadeiro idiota para Ochs. Em 1967, Ochs muda-se para Los Angeles e a folk vai perdendo força para a frente psicadélica e Phil Ochs deixa-se influenciar pelos Beatles e Beach Boys, algo que acaba por manifestar-se no seu mais ambicioso registo até à data.

Letras poéticas, políticas, caricaturadas e pormenorizadas, produção barroca e ambiciosa. Phil Ochs não concebia a ideia de que o álbum poderia correr mal. Mas correu: críticas negativas e as vendas relativamente fracas levaram-no ao progressivo declínio que levaria ao dramático suicídio. Ochs sempre quis a consagração que nunca chegou em tempo útil. Ainda vamos a tempo de redescobri-lo e este Pleasures of the Harbor é fundamental se um dia o quisermos repescar a sério. É o Newport Folk Festival de Ochs, na medida em que deixa as canções folk de protesto para se transfigurar e mudar radicalmente de direcção. É cínico, é absurdo ("The War It's Over" chegou a provocar motins) e enigmático. Sobre "Cruxifixion", eventualmente a faixa mais polémica do disco, haveria de dizer: "é sobre a morte de Cristo, sobre a forma como toda a América e especialmente Nova Iorque adoram criar heróis para lhes dar lições de moral e depois assassiná-los violentamente. É uma canção sobre Kennedy. E talvez seja uma canção sobre Dylan". Viveria mais nove anos, mas o melhor Phil Ochs terminava aqui.

Sem comentários:

Enviar um comentário